Maria Manuela Barreiros de Sousa
Amélia Simões Figueiredo e Elisa Garcia1
Foto da esquerda: pelo seu casamento (1973).
Foto da direita: fardada para o estágio, como aluna da Escola de Enfermagem da Associação de Beneficência Casas de S. Vicente de Paulo (1966)2
Maria Manuela Barreiros de Sousa nasceu a 25 de dezembro de 1946 na Maternidade Alfredo da Costa na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, única filha de Artur da Graça Soares de Sousa e de Zulmira Maria Barreiros de Sousa. Cresceu em pleno Estado Novo nos pós II Guerra Mundial, num contexto de grave crise económica e social que o mundo e o país atravessavam, depois de 1945. Viveu sempre na mesma cidade. Na sua infância e adolescência rumava até ao norte do país para visitar e passar férias, com os tios paternos e privar com os primos. Ao longo da vida manteve o gosto pelas viagens e abertura para conhecer o que era diferente, procurando a oportunidade para aumentar os seus conhecimentos e viver cada momento da vida em aprendizagem. A sua paixão pelo cinema não a deixava perder um bom filme e a oportunidade de o analisar e discutir. Tal como, um evento cultural ou o convívio social, integrado nas formas de diversão dos anos 60 e 70, marcados por novas ideias e uma maior abertura para o mundo. Casou-se em 1973 e dessa união nasceu o seu único filho, em 1977, no Hospital da Cruz Vermelha, como tinha previsto. Já sozinha, após o seu divórcio, o filho foi o seu grande companheiro e apoio nos altos e baixos da vida. Teve dois netos que já não conseguiu cuidar, mas vieram dar alegria e brilho aos seus últimos dias de vida amenizando a luta contra o cancro, do qual veio a falecer, em 22 de janeiro de 2020. Dedicou a sua vida à família e ao ensino de enfermagem, a tudo o que se relacionasse com a formação de adultos, com a comunidade, com a enfermagem comunitária e de saúde pública. De sorriso aberto, afável e disponível cativava os seus estudantes e com quem ela privava. Com uma postura de grande humanidade, de lutadora e trabalhadora incansável, tinha sempre tempo para ler mais um artigo ou uma obra de interesse cultural, ou científico, para satisfazer a sua sede de saber e aumentar a sua biblioteca privada.
Concluiu o ensino primário em 1957, na escola nº 36, na zona dos Olivais em Lisboa e o 2º ciclo do ensino liceal em 1963, no icónico Liceu Nacional, feminino, Maria Amália Vaz de Carvalho3 Detentora da habilitação académica exigida, à época, para frequentar o curso de enfermagem, decidiu ser enfermeira. Com 20 anos, concluiu o Curso de Enfermagem Geral na Escola de Enfermagem da Associação de Beneficência de Casas de S. Vicente de Paulo4 em julho de 1966. A Escola era aberta a candidatas religiosas e laicas tendo-se desenvolvido de forma a alcançar prestígio e notoriedade devido ao empenho da sua primeira Diretora (Amendoeira, 2006). A formação dada às estudantes era suportada por uma conduta e filosofia humanista cristã e pela racionalidade técnica, no âmbito das ciências médicas em todos os domínios considerados no currículo da formação inicial para os enfermeiros, à época (Madureira, 2017).Tal como era exigido, às escolas particulares5, fez o exame de estado no final do curso6 que constou de provas teóricas e práticas de conhecimentos de enfermagem, perante um júri na Escola de Enfermagem de Artur Ravara7, em Lisboa, tornando-se assim na “Enfermeira Barreiros de Sousa”.
Em 1970, concluiu o terceiro ciclo liceal (curso complementar dos liceus, antigo 7º ano). Como gostava do curso de letras, em 1971, ingressou no ensino superior e frequentou o primeiro ano do Curso de Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com o estatuto de estudante trabalhadora, curso que interrompeu por não responder às suas expectativas. A sua procura pela diversidade do conhecimento e sua vontade em continuar a estudar levo-a, em 1986, a frequentar o Curso de Antropologia Social e Cultural na Universidade Internacional para a Terceira Idade, curso que não concluiu.
A opção pelo ensino de enfermagem e pela exigência da carreira docente, levou-a concluir o Curso de Enfermagem Complementar, Secção de Ensino em julho de 1972, na Escola de Ensino e Administração de Enfermagem8. Nos anos oitenta, o apelo pela formação especializada e pela intervenção comunitária e de saúde pública, permitiu-lhe concluir o Curso de Especialização em Enfermagem de Saúde Pública9 em dezembro de 1985, na Escola de Enfermagem Pós-Básica de Lisboa.
No início dos anos noventa, devido à integração do ensino de enfermagem no ensino superior politécnico, ao abrigo do n.º 1 do artigo 10 do DL n.º 480/88 de 23 de dezembro, alterado pelo DL n.º 100/90 de 20 de março, foi-lhe concedida a equivalência ao grau de Bacharel em Enfermagem e a equivalência ao diploma de Estudos Superiores Especializados em Enfermagem, em 1990. A sua vontade em aprender e acompanhar a evolução do ensino, permitiu-lhe adquirir o grau de Mestre em Ciências da Educação – área de Pedagogia na Saúde, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, em 1996. Orientada pelo Professor Doutor Rui Canário, defendeu a tese “Da formação dos enfermeiros à construção da identidade dos professores de enfermagem”, que aborda a problemática da integração do ensino de enfermagem no ensino superior politécnico (1988) e o despoletar de mudanças, no sistema educativo dos enfermeiros, passando os docentes de enfermagem a ter o estatuto de agentes activos na construção do desenho curricular, dos cursos de enfermagem, até então da responsabilidade do Ministério da Saúde. Com o seu trabalho de investigação procurou dar voz aos docentes de enfermagem sobre a sua identidade profissional10
Tinha sido no Hospital de Santa Maria que iniciou o seu exercício profissional como Enfermeira de 2.ª classe no bloco operatório e Serviço de Patologia Cirúrgica, de 1966 a 1967.Cedo percebeu que lidar com a doença e confrontar-se com a morte, que ocorria nos serviços, lhe causava muito sofrimento e não lhe permitia desenvolver o que mais gostava de fazer – ensinar os jovens que procuravam a formação em enfermagem. Deixou o hospital e regressou à escola que a tinha formado a convite da Diretora, à época, Irmã Cecília Maio, para exercer funções como auxiliar de monitora, cargo que exerceu de 1967 a 1974. Foi nesta instituição que fez todo o seu percurso profissional e a correspondente progressão na carreia docente11.Passou para a categoria de monitora em 1974, na qual se manteve até 1981, quando passou a Enfermeira Professora, até 1990.Na sequência da integração do ensino de enfermagem no ensino superior politécnico, decreto lei 480/88 de 23 de dezembro, e da transição dos docentes para a respetiva carreira do mesmo ensino, foi professora adjunta de 1990 a 1996 e professora coordenadora da Escola Superior de Enfermagem de São Vicente de Paulo, de 1996 até agosto de 2006, ano, em que se aposentou a seu pedido. No entanto, por conveniência da Escola aceitou continuar a trabalhar, até ao final do mesmo ano civil, como professora convidada.
A reforma imprimiu-lhe uma nova mudança e alterações e o seu quotidiano tornou-se penoso pela ausência dos estudantes e do anterior contexto sócio profissional. Procurou colmatar essa falta com as atividades ligadas à formação dos enfermeiros, como formadora do Instituto de Formação em Enfermagem situado na Amadora.
Para além do ensino foi sempre disponível para participar ativamente nos órgãos de governo da sua escola. Foi membro integrante do conselho científico e do conselho-pedagógico, do qual, foi presidente, em dois mandatos de 1999 a 2004. Também integrou o conselho diretivo e representou a escola e a sua direção em eventos académicos externos. Desempenhou cargos ligados à gestão pedagógica, sendo coordenadora do curso de licenciatura em enfermagem, de 1999 até 2007, regente de várias disciplinas e coordenadora de anos curriculares. Fez parte do grupo de trabalho para a elaboração dos estatutos da Escola Superior de Enfermagem de São Vicente de Paulo, na passagem para a integração no ensino superior politécnico. Foi júri de seleção dos candidatos ao Curso de Complemento de Formação em Enfermagem, de 1999 até 2006 e júri do concurso de professor adjunto em 2005, na mesma escola.
Ao longo do seu percurso profissional ensinou enfermagem tendo por base vários planos de estudos desde o plano de 1965, considerado um marco importante na formação inicial dos enfermeiros que os preparava para trabalhar tanto no contexto hospitalar como nos serviços de saúde pública, até ao plano de estudos da licenciatura em enfermagem. Em todos, foi regente de estágios, sendo responsável pela lecionação de aulas teóricas, orientação e avaliação dos estudantes no centro de saúde e de inúmeras unidades curriculares, nomeadamente, no âmbito da Investigação e Estatística, Teorias de Enfermagem, Perspetivas de Enfermagem, Enfermagem em Cuidados de Saúde Primários com desenvolvimento da Enfermagem de Saúde Pública e também a Enfermagem de Gerontologia. Também orientou inúmeras monografias no âmbito do 4.º ano da licenciatura em enfermagem. Procurou sempre acompanhar o desenvolvimento do ensino de enfermagem de forma a contribuir para os novos desenhos curriculares dos planos de estudos, das unidades e programas das disciplinas o que a levou a participar em grupos de trabalho para a organização e alteração do plano de estudos do Curso de Enfermagem, em 1998, da sua escola.
Desde sempre se preocupou com a atualização de conhecimentos e com o desenvolvimento de competências para o exercício profissional pelo que participou em vários congressos e frequentou inúmeros cursos de formação ao longo da vida, dos quais se destaca: o Curso de Formação de Formadores do Instituto do Emprego e formação profissional; a participação no II Cumbre Iberoamericano en Honor a la Calidad Educativa, em representação do Instituto de Formação em Enfermagem, Buenos Aires, Argentina, 2006; Meeting semestral-Federation of Occupational Health Nurses Within the Europea Union, Helsínquia, 2002; II Conferência Internacional da FINE em 1998 na Dinamarca; Reuniões decorrentes das comemorações do ano europeu das pessoas idosas e da solidariedade entre gerações em ligação com o projeto AgeingWell -Age Concern, em Inglaterra, França, Espanha, Itália e Grécia de 1993 a 1996.
Compreendendo a importância do conhecimento e da divulgação do mesmo participou em eventos e seminários ligados à investigação nacional e internacional relacionados com o desenvolvimento da enfermagem e a perspetiva educacional, a convite, com várias instituições apresentou comunicações em várias áreas do saber, o envelhecimento saudável e ativo; o adulto em formação e modelos de formação de adultos; desenvolvimento de competências em enfermagem de saúde mental-como formar; a importância da investigação em enfermagem pediátrica; perspetivar cuidados ao idoso; a importância da investigação na formação dos Enfermeiros; qualidade e exercício de cuidados em enfermagem (responsabilização)”; “apoio aos idosos -experiência portuguesa “Caring for Older people in rural Communities”; a morte -doente terminal-cuidados de Enfermagem.
A sua disponibilidade e interesse por outras atividades levou-a a participar com várias instituições das quais se destaca ter sido Professora da Escola Superior de Educação João de Deus na Licenciatura em Gerontologia Social, em 2008 e Coordenadora Pedagógica do Instituto de Formação em Enfermagem-Academia de Ciências de Enfermagem, em 2007, onde colaborou em vários cursos ligados à formação contínua para enfermeiros, como o Curso de Enfermagem no Idoso e a prática de Enfermagem e o Idoso. Integrou o júri de provas de mestrado “Respostas inovadoras para a população sénior – residências assistidas” do Curso de gestão de Serviços de Saúde do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa em novembro de 2007. Colaborou no Curso de Pós-Licenciatura de Especialização em Saúde Infantil e Pediatria, entre 2005 e 2006, enquanto Regente da Unidade Curricular de Ciências de Enfermagem. Participou num colóquio da Comissão permanente de intervenção social e cultura promovido pela Assembleia Municipal de Lisboa, em 2005 e vários grupos de trabalho para a valorização dos cuidados da pessoa idosa promovidos pela Ordem dos Enfermeiros,2005. Integrou o seminário organizado pela Comissão de Trabalhos e dos Assuntos Sociais da Assembleia da República, em 2004. A convite, da Escola Superior da Enfermagem Maria Fernanda Resende, participou no 12.º Curso de Especialização em Enfermagem em Saúde Pública, na opção Saúde do Idoso, igualmente, no primeiro e no segundo Curso de Pós-graduação em Geriatria e Gerontologia no Instituto de Formação Continuada em Saúde, da Universidade Autónoma de Lisboa, de 2002 a 2004. Participou na conceção, organização e foi formadora dos cursos de formação contínua “A saúde do Idoso e o apoio domiciliário” e “As relações humanas no contexto socioprofissional” de 2001 a 2003, na Escola Superior de Enfermagem de São Vicente de Paulo.
Foi membro dos Órgãos Sociais da Ordem dos Enfermeiros – Mesas da Assembleia Regional da Zona Sul de 1999 a 2003. A pedido da Ordem, em 2002, participou, na acreditação da Formação da Enfermagem no contexto da atribuição dos títulos profissionais. Pelo Despacho n.º 4131/2001(2.ª Serie DR n.º 48 de 26 de fevereiro 2001) foi integrada no grupo de trabalho para a criação da Especialização em Enfermagem de Saúde Familiar, decorrente da Conferência de Munique12, já tinha sido nomeada para o grupo de trabalho que preparou a primeira Conferência Europeia de Enfermagem que decorreu em Viena, em junho de 1998.
Como formadora integrou o plano de formação da ARSLVT – Sub-Região de Saúde de Lisboa em 1995/1996, colaborou no Encontro de Enfermagem a convite do Hospital Reinaldo dos Santos no Hospital de Vila Franca de Xira, em 1996 e na orientação de desempenho dos Enfermeiros avaliadores, a convite da ARSLVT– Sub-Região de Saúde de Lisboa. Participou na ação de formação para os enfermeiros dos centros de saúde a convite da ARSLVT – Sub-Região de Saúde de Lisboa, em 1995 e em ações de formação e cursos para enfermeiros dos CS da ARSLVT desde 1993, no âmbito da Saúde Materna, Saúde Infantil e Planeamento Familiar. Colaborou em workshop sobre a CIPE promovidos pela Associação Profissional de Enfermagem, em 1998 e no encontro de enfermagem. Participou no Curso de Formação para ajudantes de lar e de apoio domiciliário sobre “Gerontologia e Apoio Domiciliário” em Angra do Heroísmo, em 1992 e nos cursos de Formação Profissional para Auxiliares de Ação médica promovidos pelo Departamento de Educação Permanente dos Hospitais Civis de Lisboa, em 1990.
Defensora dos direitos dos enfermeiros e dos professores, foi filiada no Sindicato dos Enfermeiros Portugueses e posteriormente, no Sindicato Nacional do Ensino Superior. A sua grande disponibilidade para participar em atividades complementares, relacionadas com o interesse da profissão e dos enfermeiros, levou-a a associar-se e a colaborar com a Associação Portuguesa dos Enfermeiros e com a Associação Católica dos Enfermeiros e Profissionais de Saúde, onde exerceu o cargo de secretária da direção, entre 1967 e 1968. A inscrição na Ordem dos Enfermeiros com a cédula n.º 24082, permitiu-lhe o seu exercício profissional.
A produção científica também foi um dos seus investimentos. Integrou o conselho editorial e a comissão científica da Revista “Acontece Enfermagem” desde a sua criação em 2001, até ao seu encerramento aquando da transmissão da Escola de Enfermagem de São Vicente de Paulo para a Universidade Católica Portuguesa, em 2006. Deixou-nos várias publicações da sua autoria.
Escrever sobre a Manuela Barreiros de Sousa, enfermeira e também estudante militante, é procurar registar e analisar alguns “retalhos da sua vida” e a sua trajetória profissional de forma a dar a conhecer a professora e a mulher que foi, através de fontes curriculares, da sua imagem aos olhos dos que lhe foram próximos, e dos escritos que nos deixou. Estes, permitem-nos desvendar o que deixou ao longo da sua vida profissional, à enfermagem, à formação dos estudantes da sua escola e à comunidade de uma maneira geral, quer pelo envolvimento na formação profissional dos enfermeiros da sua Escola, quer pela participação ativa e cívica com inúmeras instituições e organizações. Tal como a própria menciona na introdução do seu curriculum “na vida é necessário, por vezes, parar, lembrar, registar e guardar TUDO o que com maior ou menor interesse ou participação demos aos outros e a nós próprios”
(Barreiros de Sousa, curriculum 2003, processo individual arquivo da UCP).
Publicações da autora
Sousa, M. M. B. (1998). O envelhecimento-uma abordagem pluridisciplinar. Servir, 46(6), 316-317. Sousa, M. M. B. (2001). Repensar e recriar a cena educativa: breves reflexões. Acontece Enfermagem, I (1), 16-17.
Sousa, M. M. B. (2001). A importância do livro. Acontece Enfermagem, I (1), 34
Sousa, M. M. B. (2001). Repensar e recriar a cena educativa: breves reflexões. Acontece Enfermagem, I (2), 33-34.
Sousa, M. M. B. (2001). Mudança na formação ou formação em mudança? breve reflexão. Servir, 51(1), 13-15
Sousa, M. M. B. (2005). Formação e identidade profissional: da formação dos enfermeiros à construção da identidade dos professores de enfermagem. Amadora: Instituto de Formação em Enfermagem.
Sousa, M. M. B. (2006). Investigação? A chave do desenvolvimento. Revista Portuguesa de Enfermagem, 5, 5-6.
1 Estudo biográfico realizado entre março de 2021 e junho de 2022. Publicado no site da Sociedade Portuguesa de História de Enfermagem
2 Fotografias cedidas por Tiago Antunes, filho da Manuela Barreiros de Sousa
3 Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho. Disponível em https://esmavc.edu.pt/index.php/escola/historia
4 Associação reconhecida como pessoa colectiva de utilidade pública e administrativa conferida pelo alvará do Governo Civil de Lisboa, em março de 1939, quando passou a ser entidade patronal da Escola de Enfermagem criada por influência da Irmã Eugénia Tourinho, da Companhia das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo. Era diplomada em enfermagem pela Escola do Hospital “Des peupliers de Paris“, imbuída dos princípios e ideais da sua congregação dedicou-se aos mais pobres, desprotegidos e à assistencia aos doentes. Como enfermeira identificou a necessidade de preparar jovens raparigas para assistirem, com humanidade, os mais necessitados aliviando o seu sofrimento. Procurou e lutou por um espaço adequado para uma escola de enfermagem que permiti-se, às 8 alunas do primeiro curso de enfermagem, iniciado em novembro de 1937, uma aprendizagem regular, organizada e orientada da qual fazia parte a preparação teórico prática que incluia visitas domiciliárias, aos doentes internados, nos hospitais. A escola ficou sediada no edificio da Congregação no nº 94, da Rua de Santa Marta e manteve o seu funcionamento nestas instalações até 1949, ano em que passou para as instalaçoes da casa principal da Associação de Beneficiência Casas de S. Vicente de Paulo, na Avª Marechal Craveiro Lopes nº 10, na freguesia do Campo Grande, em Lisboa. A Irmã Eugénia, foi reconhecida pela Inspeção do ensino Particular do Ministério da Educação, em 1940, como diretora desta Escola, onde premaneceu até 1952, ano em que regressou ao Brasil (in brochura comemorativa do cinquentenario da Escola de Enfermagem de S. Vicente de Paulo, 1937 1987; brochura comemorativa do 60 º aniversário 1937-1997)
5 As escolas particulares eram criadas e mantidas por iniciativa privada mesmo quando recebiam subsídios do estado ou quando o estágio dos alunos era realizado em estabelecimentos oficiais (Amendoeira, 2006)
6 Esta obrigatoriedade surge em 1947 e obrigava as estudantes a prestarem provas, perante um júri, constituído por professores da escola pública e da escola privada, permitindo desta forma o reconhecimento oficial do diploma, de acordo com o decreto lei nº 36:219 de 10 de abril de 1947 (Alves, Jorge, et al , 1997). Até esse ano “os exames foram presididos e avaliados por um júri nomeado pelo Ministério da Educação Nacional e os diplomas das enfermeiras foram inscritos num registo especial aberto pela Inspeção do Ensino Particular”(Madureira, 2017)
7 Foi a primeira grande Escola Pública, de Enfermagem, em Lisboa. Teve como génese o primeiro curso prático de enfermeiros criado , em 1886, a funcionar no Hospital de S. josé,em Lisboa, o que levou, em 1901, à criação da Escola Profissional de Enfermeiros, posteriormente, em 1930, à Escola de Enfermagem de Artur Ravara (Silva, A.V.A., Macedo., E.M.C., Garcia, E.M, B., Marques, M.F., Pedroso, M.H.M., Varandas, M.L., 2007)
8 Decorrente da reforma do ensino de enfermagem de 1965, com o decreto lei nº 46.448 de 20 de julho, esta escola foi criada em 1967, para preparar enfermeiros para exercerem a docência em enfermagem e para os cargos de chefia. Procurou, sempre, promover a especialização de saberes, o desenvolvimento da investigação e da disciplina de enfermagem de forma interdisciplinar (Amendoeira, 2006)
9 Este curso foi iniciado em 1977e ministrado, inicialmente, na Escola de Enfermagem de Saúde Pública, criada em 1967, para dar resposta à urgente necessidade de formar pessoal de enfermagem de saúde pública. Em 1971, decorrente da politica unitária da saúde e assistência, deu-se inicio à reforma dos serviços de saúde, e à reformulação da carreira de enfermagem criada em 1967, consequentemente, passou a ser considerada condição necessária formar pessoal de enfermagem especializado em enfermagem de saúde pública. O plano de estudos, orientado por uma equipa multiprofissional, pretendia formar especialistas com base no conhecimento da realidade do país no campo do ensino e do exercício profissional. Foi o primeiro curso de especialização a integrar a investigação na aprendizagem dos enfermeiros( Garcia, 2016)
10 Cf Sousa , Maria Manuela Barreiro de (1996) Da formação dos enfermeiros à construção da identidade dos professores de enfermagem https://repositorio.ul.pt/handle/10451/33119?locale=en
11 Cf- A carreira do ensino de enfermagem DL nº 414 , de 27 setembro de 1971, artigo 29, remetia para as normas aplicáveis para o ingresso e acesso constantes no artigo 5º, do DL 48166, de 27 dezembro de 1967. Previa a categoria de auxiliar de monitor, monitor, enfermeiro professor, monitor chefe e diretor da escola. Os enfermeiros monitores eram recrutados por concurso de provas, de entre os auxiliares de monitores. com pelo menos dois anos na categoria, habilitados com o curso complementar de enfermagem secção de ensino. Os enfermeiros professores eram recrutados por concurso de provas, de entre os monitores, com pelo menos de três anos de exercício na categoria.
12 Cf. Na Conferência Ministerial da OMS, que decorreu em 2000, em Munique foi valorizada a família como foco dos cuidados de enfermagem e a importância do enfermeiro de família na promoção e manutenção da saúde familiar.
Fontes
Entrevista ao Tiago Antunes, filho da Manuela Barreiros de Sousa sobre “a pessoa e a enfermeira Barreiros de Sousa” (1.30h) 8 de março de 2021. Lisboa
Maria Manuela Barreiros de Sousa- Processo individual (vol. I e II). Documentos com dados do percurso profissional e curriculum vitae de 2003 e 2008. Arquivo dos recursos humanos, da Universidade Católica Portuguesa. Lisboa.
Outras fontes
Alves, J, et al. (Eds.). (1997). Comemoração do 60º Aniversário (1937-1997). Escola Superior de Enfermagem de São Vicente de Paulo.
Amendoeira, j. (2006) Uma Biografia Partilhada da Enfermagem. Coimbra: Formasau
Escola Secundária Maria Amália Vaz de Carvalho. A História da Escola: Disponível em https://esmavc.edu.pt/index.php/escola/historia
Escola Superior de Enfermagem de São Vicente de Paulo (Eds.). (1987). Comemoração do Cinquentenário (1937-1987). Escola Superior de Enfermagem de São Vicente de Paulo: Gráfica Maiadouro.
Garcia, E.M.B (2016) Evolução Histórica do Ensino de Enfermagem de Saúde Pública (1901-1977) [Dissertação de Doutoramento não publicada] Universidade Católica Portuguesa.
Madureira, M. (2017) Escola Superior de Enfermagem de São Vicente de Paulo: uma história ao Serviço da Formação. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa
Silva, A.V.A., Macedo., E.M.C., Garcia, E.M, B., Marques, M.F., Pedroso, M.H.M., Varandas, M.L. (2007) Escola Superior de enfermagem de Artur Ravara, Pioneira no Passado, Atuante no Presente, Inovadora no futuro.121 anos de História. Loures: Lusociência
Sousa, M. M. B. (1996) Da formação dos enfermeiros à construção da identidade dos professores de enfermagem. [Dissertação de Mestrado não publicada] Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Universidade de Lisboa: Disponível em: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/33119?locale=en
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